terça-feira

OUTRA VEZ FUTEBOL

Transcrevemos do último "Destak" a crónica do médico psiquiatra José Luís Pio de Abreu: "Quando, em qualquer parte do mundo, me perguntam de onde sou e eu respondo com o nome do nosso país, já não deparo com aquelas expressões indiferentes ou perplexas que escondem a ignorância ou a dúvida.Pelo contrário, o nosso interlocutor esboça um sorriso condescendente e exclama: ah, sim, futebol, bons jogadores. Afinal, já somos reconhecidos; temos direito à existência.Mas se a conversa se alonga e falo da história, dos descobrimentos, logo os outros se perguntam sobre o último Mundial ou o próximo Europeu.Os mais idosos ainda podem falar do Eusébio. Se falo da nossa língua, falada em todos os continentes e também no Brasil, acabamos por discutir a nacionalidade do Deco. Se falo dos nossos ilustres, do Prémio Nobel da Literatura, do Presidente da República, ou mesmo do Dr. Alberto João Jardim, atiram-me à cara com o Cristiano Ronaldo e o José Mourinho. Se falo do clima, das paisagens ou monumentos, o mais que posso partilhar é o Estádio da Luz ou talvez outro.Foi a pensar no que somos e na identidade que temos, que andei por aí a vaguear. De facto, com hambúrgeres, MacDonalds, shoppings, franchisings e aquelas maravilhas arquitectónicas que tanto se podem ver aqui como em Berlim, já pouca coisa nos distingue.Excepto uma coisa: a bandeira, ou as bandeirinhas todas iguais que apareciam nas janelas das casas. Só que agora já não se vêem.Mas quando passei pela sede da Federação Portuguesa de Futebol, na Rua Alexandre Herculano, lá estavam ainda as bandeirinhas todas iguais em todas as janelas. Estavam ali como uma revelação: afinal, este país é um clube de futebol."
J.L. Pio Abreu