quarta-feira

Gosto de arte. Em especial da arte conceptual.
A arte Conceptual supõe que: a) a Arte consiste numa ideia básica e que não terá que ter necessariamente uma forma material; b) a matéria básica da Arte é a linguagem e que não há distinção entre a Arte e a Teoria da Arte e que c) a actividade artística é uma investigação sobre a natureza da própria Arte.
A Arte Conceptual é uma tendência iniciada nos anos 60 e 70 que procura abolir radicalmente o objecto artístico, desviando a atenção do espectador da obra executada para as suas propostas ou documentação, textos, notas, filmes, vídeo, gráficos, etc.
As primeiras experiências conceptuais tendiam a reforçar a ideia de paralelismo entre a Arte e a linguagem, ou que a Arte é uma forma de linguagem.
A Arte Conceptual teve nas suas origens no Ready-made, invenção de Marcel Duchamp, no contexto do Dadaísmo em 1917, ao propor para exposição como peça de escultura, um vulgar urinol de folha, assinado “R. Mutt” e intitulado “Fonte” (ver Dadaismo e Cubismo). Marcel Duchamp estava “mais interessado na ideia do que no produto final”, criando assim uma forma de “arte como ideia” essencialmente anti-formalista.
A pintura do Surrealista René Magritte, especialmente “ceci n’est pas une pipe” de 1928, coloca em dialogo o titulo da obra com a sua imagem, suscitando um confronto linguístico que está na base da Arte Conceptual.

A Obra emblemática inicial foi “One and Three Chairs” de Joseph Kosuth de 1965.
A Arte Conceptual não tem uma origem definida no tempo, mas começou a surgir como uma tendência artística a partir dos anos 70.

quinta-feira

Lisboa revisited 1923
NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistasDas ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) — Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço.
Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz!
Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Álvaro de Campos

quarta-feira

Hoje li um post num outro blog que me trouxe à memória algumas considerações e me fez destruir algumas das manias que me impediam de escrever algo pelo medo de não ser intelectualmente elevado e interessante para outros.

Omeu blog não é um espaço de pseudo-teorizações indecifráveis à maior parte da humanidade sobre assuntos que ninguém mais percebe a não ser a clubistica minoria de seguidores fanáticos do blogger em questão; e que ninguém tem a ignómina intenção de contrariar, tão só de idolatrar... pois estando perante uma indecifrável opinião de Deus...

O meu blog ... "(...) é um blog e não um fórum de discussão.Um blogger posta o que quer, sobre o que lhe apetece. (...) usa o espaço que é seu para provocar, desabafar, desancar, escrever o que quer, da maneira que quer, quando quer e sempre que quer. (...) discute, contra-argumenta, fala, provoca e aceita retorno desde que de forma digna e decente de quem quer provocar, contra-argumentar, discutir à sua altura." (www.ecaequeeessa.blogspot.com)

Eu gosto sobretudo de descobrir novos sítios e novas pessoas que me abrem, deste modo, janelas para os seus mundos interiores, para si mesmos e para os seus interesses, projectos e opiniões... outros sítios de interesse...
Neste país andamos todos demasiado ocupados com as nossas "pequenas"/grandes tarefas individuais que esquecemos coisas essenciais... o que eu quero dizer é: quando andamos todos demasiado ocupados a viver, quem pensa naquilo que andamos (todos juntos enquanto sociedade) a fazer?! NINGUÉM PENSA????????????

terça-feira

"Ora, o que um cientista social deve fazer, ao lidar com qualquer discurso, é perguntar-se o que está por detrás da palavra-código e fazer a sua genealogia. Não deve aceitá-la como uma descrição adequada e neutra de uma presumida factualidade." in http.//blog.miguelvaledealmeida.net/

segunda-feira

a minha selecção

«"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!

Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!»

José Régio in "Poemas de Deus e do Diabo"



sábado

“Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo”
Ricardo Reis, “Odes”

terça-feira

O QUE É ANTROPOLOGIA?
Fernando Pessoa era já pós-modernista em extremo quando afirmava "Sê plural como o universo.".

Com o fim de todas as grandes meta-narrativas e a estilização activa da vida, a coerência e a unidade da personalidade dá lugar à exploração lúdica de experiências transitórias e de efeitos estéticos superficiais (velozmente circulam novos estilos ou nostálgicos estilos passados). Vivemos o anverso das imagens estereotipadas das sociedades de massa (nas quais compactas fileiras de pessoas se vestem de maneira semelhante), a época contemporânea pode ser caracterizada como uma era sem estilo, pois saturada de diferentes estilos.